quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Velha Guarda versus Nova Guarda (BDSM Tradicional, Clássico ou Antigo versus "novo BDSM")

 

Durante a década de 90 formou-se esse meio-BDSM e a nossa cultura “meio que” se sistematizou.
Pessoas mais antigas no meio costumam reclamar que os costumes e ritos antigos, que os princípios do “verdadeiro” BDSM estão sendo muito transgredidos pela “nova turma”. É como se fosse um conflito entre gerações, entre pais e filhos.
Antigamente era comum se ver relações de puro BDSM, sem misturá-lo com condutas ou sentimentos baunilhas. Cada um, é o que dizem, cumpria o seu papel dentro do BDSM e pronto.
Acontece que, de acordo com essa visão, hoje em dia se vive uma invasão de baunilhas apimentados (fetichistas muito leves, que apreciam pequenos fetiches para apimentar a relação), de fetichistas, de pessoas despreparadas sem um mínimo de conhecimento básico e de baunilhas “paraquedistas”. Houve, como dizem, uma baunilhização do meio.
Hoje é comum vermos, com os avanços da internet e certa popularização do fetichismo na mídia, a invasão de “paraquedistas”, sem nenhuma filosofia-BDSM, querendo apenas sexo fácil, achando que o conseguirão mais facilmente aqui do que no meio baunilha. Acham que só porque uma mulher é submissa ou masoquista, que ela aceitará qualquer um. Abundam os “mestres de araque”, fingindo deter um conhecimento que não possuem. Daí muitas mulheres saem do meio, pois supõe que aqui só há enganadores e charlatões, o que não é verdade.
Acontece também a invasão de certas pessoas que gostam de determinados fetiches, mas que não são BDSMers na acepção correta do termo. Por exemplo, pseudo-submissas, que gostam determinados fetiches, como apanhar ou ser amarrada, mas que não têm o desejo de servir um dominador, ou seja, não fazem tais coisas para agradar o seu Senhor, mas apenas para realizar as suas fantasias. Claro que não se exige que a submissa faça tudo sem prazer. Na maioria das vezes a submissa gosta do que realiza, mas o foco é o prazer do dono, então ela fará também o que não gosta para agradá-lo. Se ela só aceita fazer o que gosta, visando somente seu próprio prazer, estamos diante de uma fetichista apenas, não de uma submissa (que também pode ter os seus fetiches) — nada contra os apenas fetichistas, mas usemos os termos devidamente, por favor.
Outrossim, com a popularização do BDSM nas mídias, muitas pessoas despreparadas — que embora sejam BDSMer, não estudam primeiro as práticas que pretendem fazer, violando a questão da Segurança — ocasionam acidentes de leves a graves ou até a morte, quando tudo isso poderia ser evitado se se estudasse antes o que se pretende fazer, para tanto existem livros, sites, eventos, workshops, etc. Maiores cuidados devem ser empregados em relação a práticas mais agressivas, como um spanking forte, uso de agulhas, asfixia, suturas, imobilização severa, etc.: todos os procedimentos de segurança devem ser estudados antes, minimizando ao máximo possível os riscos.
A lei da qualidade versus quantidade é válida aqui, pois com a massificação do BDSM era óbvio que haveria uma natural perda de qualidade no quadro geral de BDSMers. Seria impossível que a qualidade de um seleto grupo fosse mantida. É assim nos demais aspectos e setores da vida e sociedade, é preciso separar o joio do trigo; os melhores são poucos, por isso ostentam esse título.
Com efeito, é necessária muita cautela na escolha de seu par e também são bem vindas campanhas e veiculação de informações pertinentes, visando à elevação do nível geral de conhecimento dos praticantes de BDSM, excluindo os paraquedistas e enviando-os de volta ao avião do qual caíram rs.
Outrossim, está comum atualmente uma mescla de BDSM e coisas baunilhas. Existem praticantes que se casam com seu par e/ou que misturam romantismo e BDSM, como, por exemplo, levar a escrava (e namorada) para um jantar romântico, para uma sessão de cinema, tratá-la com adjetivos carinhosos, levá-la para uma viagem romântica e outros atos tão comuns no mundo baunilha.
Não se julga errado a mistura do BDSM com romantismo e/ou outras práticas baunilhas; cada casal sabe de si e do que é melhor para si. Desde que tudo seja feito de modo consensual, honesto e claro e com segurança, não há problema. Entretanto, que as terminologias sejam mantidas, com o fim de rigor terminológico e para facilitar a comunicação entre as pessoas. Então, se é baunilha, seja baunilha. Se é fetichista, que o seja. Se quer misturar romance e BDSM, que os misture; e assim por diante. Todavia, se você é, por exemplo, apenas fetichista, por que querer se denominar BDSMer? Não há status maior nisso. Caso queira misturar BDSM e romantismo, quando se referir a coisas baunilhas e românticas, que admita NÃO tratar-se de BDSM. Cada termo deve ser empregado corretamente para evitar mal-entendidos.

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